Sala de Convívio

Ainda tinha alguns dias antes das aulas começarem, era bom porque tinha tempo para conheceres as redondezas e especialmente as minhas colegas da fraternidade. Mas parecia-me que tinha sido das primeiras as chegar, visto não ter visto ainda ninguém.
Acabei por me sentar no sofá da sala de convívio e liguei a televisão procurando o canal da minha serie preferida.

Entrar na ZBZ tanto tinha os seus pontos positivos como negativos. Por exemplo, aqueles tons de rosa por toda a parte que até fazem os nossos olhos doer, assim como a misturas dos mais variados cheiros, sejam de perfumes, cremes, e até batons. Às vezes provocavam dores de cabeça. Os pontos positivos resumem-se sempre a ver gajas boas, engatá-las, pedir-lhes os números ou redes sociais... Ah, é a vida. Depois de ter ido falar com a Devin, a presidente da ZBZ, passei pela sala de convívio e vi por lá uma moça bem jeitosa, que por sinal nunca vi por cá. Bati à porta e entrei - sim porque eu sou deveras educado, tão educado que até dói - sorrindo-lhe docemente. Aquele meu sorriso de quem está prestes a conhecer uma gaja boa, e talvez com intenção de a engatar - Olá! Então, estás aqui sozinha? És nova por cá, certo?

Estava tão concentrada na televisão e na minha serie que nem dei pela presença de um rapaz na sala de convívio. - Olá. - acabei por dizer num tom um pouco frio, não de propósito mas por já estar habituada a fazer isto com as pessoas que não conhecia... - sim, sou nova aqui... Notasse muito? - acabei por perguntar de uma forma um pouco arrogante sem me importar muito com a presença dele.

Bem, esta parece que é daquelas que é mal humorada e que fala mal com toda a gente. Mantive o meu sorriso e aproximei-me dela, estendendo-lhe a mão - Encaixas perfeitamente aqui, mas como eu sou cá e conheço praticamente toda a gente, sei bem quem é de cá e quem não é. Chegaste hoje?

Olhei-o por momentos visto que ainda não o tinha feito desde que falava com ele. - Encaixo? Então porque? - acabei por perguntar mas já tinha uma vaga ideia do que ele me podia responder. Encolhi os ombros, não muito importada com o que tinha dito e voltei a olhar a televisão por meros segundos. - Sim, à umas horas.

- Porque és rapariga, e esta é uma fraternidade exclusivamente para raparigas - Encolhi os ombros e ri baixinho. Se bem que a maior parte que aqui está também são raparigas todas pipis, e ela também o parece ser. Suspirei e contive-me para não revirar os olhos e coloquei a mão novamente no bolso - Sendo assim, bem-vinda! Eu sou o Jonathan Grey, Presidente da Omega Chi Delta, a fraternidade de rapazes. - Apresentei-me vagamente.

Até me sentia um pouco diferente daquelas raparigas cheias de maquilhagem, por sinal, mas sinceramente, acho que essa era a minha grande diferença para com elas. Já tinha beleza natural e não precisava de demasiada maquilhagem. - Obrigada. - acabei por dizer deixando um pequeno sorriso esboçado no meu rosto por meros segundos. - Eleanor Foster. - acabei por me apresentar também.

- Ora essa - Afirmei, fazendo uma breve pausa - Prazer. Importas-te que eu fique com o teu número, Eleanor? - Questionei enquanto retirava o meu iPhone do bolso. Sim, às vezes sou tão directo que até lhes dói. - É que, eu como presidente da OCD tenho os contactos de quase toda a gente... Nunca se sabe, às vezes damos festas mistas e assim, ou posso precisar do teu número para te contactar, nunca se sabe - Encolhi os ombros e passei-lhe o telemóvel, já desbloqueado, para que marcasse o seu número.

Peguei no telemóvel sem olhar o mesmo e acabei por olhar por segundos para Jonathan. - Não perdes tempo. - comentei diretamente sem qualquer problema. Lá acabei por escrever o meu número de telemóvel, mas como o rapaz até era giro, não me apeteceu fazer a típica partida e colocar um número ao calhas, como fazia praticamente todas as vezes... Voltei a dar-lhe o telemóvel sem dizer nada.

- Nunca. Tempo é dinheiro, e perder dinheiro nunca é bom, portanto perder tempo também não - Respondi logo de seguida quase que automaticamente e sorri de canto. Assim que ela me devolveu o telemóvel, liguei para ela e sorri abertamente quando ela estremeceu e levou a mão ao bolso das calças de ganga. Para além disso, o seu telemóvel também estava a tocar, uma canção que me era familiar, mas não sei bem qual era. - Assim ficas com o meu número também, caso seja preciso - Encolhi os ombros. Na verdade era mais para ver se não me tinha dado um número falso, porque estas gajas são todas parecidas. Gostam de fazer de se fazer de difíceis, mas depois vêm todas ter connosco e até se ajoelham e tudo. Ou põem-se por baixo de nós... Ou por cima.
Suspirei e voltei a olhá-la quando sacudi os meus pensamentos para fora da mente e mordisquei o lábio.

Este não era tão estúpido quanto isso. pensei para mim e tirei o telemóvel do bolso acabando por guardar o seu contacto. Permaneci algum tempo calada a ver o resto da minha serie preferida que estava nos seus últimos trinta segundos e no fim disso acabei por o olhar de novo, sem sorrir. - Estás aqui à muito tempo? - acabei por perguntar, visto ele ser o presidente da tal fraternidade dos rapazes, devia estar algum tempo, pensava eu. Imaginava como já devia ter comido todas as raparigas e mais algumas da faculdade, e sempre que aparecia uma nova, de certeza que era isto que fazia, tentar come-la, começando por lhe pedir o seu número. Mas comigo, acho que não iria ter muita sorte com esse seu pensamento, faço fosse realmente o que Jonathan fazia aqui.

- Sim, à algum. Uns anitos só, ainda me faltam uns tempos para sair de cá - Ri e encolhi os ombros. Olhei o relógio e suspirei - Bem, eu vim cá só para falar com a Devin e... Tenho de ir embora. Vemo-nos por aí. Alguma coisa, tens o meu contacto - Sorri-lhe e depois guardei o telemóvel no bolso, afastando-me então do sofá, indo na direcção da porta.

Olhei os seus movimentos até à porta e acabei por ficar calada por algum tempo. - Tchau. - acabei por me despedir com apenas uma palavra.
Peguei no comando de novo e tentei procurar alguma coisa para ver que me chamasse à atenção, mas a escolha estava difícil.

- Adeus, Eleanor. Foi um prazer conhecer-te - Sorri e saí daquela divisão, saindo então da fraternidade.
Esta é, sem dúvida, daquelas que se faz de difícil, daquelas que acham que nada lhes afecta, que são de ferro ou até de aço. E às vezes são as mais carentes. Dei por mim a rir enquanto fechava a porta e depois fui para a OCD.

Encerrado.

Acabei por desligar a televisão e subir para o meu pequeno quarto, onde troquei de roupa para uma mais simples e peguei na minha mala, pronta para conhecer a pequena cidade que envolvia a faculdade, o meu novo mundo. Apesar de não gostar muito de andar sozinha, acabei por sair da fraternidade sozinha.
Encerrado.