Quarto da Presidente Genevieve Mason

Aquela noite estava a ser particularmente difícil.  Tentara adormecer mas dei imensas voltas na cama. Genevieve não me saía da cabeça. Sentia a sua falta. Tanto do seu humor bipolar, como das suas provocações e dos seus sorrisos. Eu tentara a todo o custo evitar que ela me visse, e vice versa. Mas naquela noite saí da fraternidade e fui correr para o campus para aliviar os demónios da minha mente. A dada altura dei por mim a passar ao largo da fraternidade dela. Dali podia ver a sua janela. Imaginei que àquelas horas ela dormisse. Sabia que ela tinha ensaios bem cedo pela manhã.  Não sei dizer porquê,  mas fiquei a sentir-me inquieto. Coloquei o meu capuz e entrei pelas traseiras. Ia só verificar. Nem ia bater à porta se for preciso. Mas quando lá cheguei não pensei duas vezes e abri a porta de uma vez só ao ouvir um barulho ensurdecedor, como que uma batida. Já estava toldado pela raiva ao ver o rapaz que tinha as mãos em cima dela e continuava a gritar qualquer coisa. Eu nem entendia o que era. Simplesmente agarrei-o pelo seu capuz e fi-lo  cair para trás contra o chão.  Depois meti-me em cima dele e edei-lhe um murro. Foi tudo o que bastou, ele ficou logo k.o. Tentei acalmar a minha expressão antes de a encarar.  Acho que não consegui. - Genevieve...- Aproximei-me. 

Tirei um segundo para olhar em redor. O seu quarto estava um caos com algumas coisas partidas pelo chão, outras deitadas abaixo. Genevieve nem reagia. O medo passou-me pelas vias como um arrepio. E se ela não estava bem? Aproximei-me dela, pondo-me de joelhos no chão para estar ao seu nivel e toquei-lhe no braço - Gen... - Ela parecia petrificada. Assustou-me vê-la assim e quis logo abraçá-la mas sabia que ela estava em choque e tinha de lhe dar espaço - Já acabou, Gen. Já acabou. Ninguém te vai fazer mal. 

Fiquei tremendamente aliviado quando ela finalmente reagiu à minha presença e se atirou para os meus braços. Era exactamente onde eu a queria - nos meus braços - onde não deixaria que mais ninguém a magoasse. - Eu estou aqui. Mais ninguém vai fazer-te mal - Murmurei. Continuei a abraçá-la e a afagar as suas costas com as minhas mãos para que ela se fosse acalmando e sentindo em segurança. 

Ainda não pensara no que acabara de acontecer. O gajo não estava morto, embora parecesse. Mesmo tendo sido em legitima defesa eu estava sob vigilância da policia e podia ir preso por o ter agredido. - Vou chamar a policia. E tu vais para outro sitio. A minha fraternidade. Eu ofereço o meu quarto, mas há muitas raparigas lá também. De certo uma deixa-te ficar lá enquanto eu resolvo isto.

Eu podia arranjar problemas. Certamente que iria. Mas aquele canalha tinha de ir para a prisão. Ou se não eu acabaria por o encontrar novamente e então aí sim, arranjaria problemas com a policia. - Não te preocupes. Onde tens o material? Tens de o levar daqui - Disse-lhe. Eu precisava de saber que ela estava em segurança. - Dá-me um segundo, então - Peguei no corpo daquele cabrão e arrastei-o até fora da porta do seu quarto. Deixei-o tombado nas escadas - Fica aqui. Vou ligar à policia. Se tudo correr bem, eles levam-no e nós só teremos de testemunhar amanhã. Depois vamos para o meu quarto.

Tinha o telemóvel na mão e estava prestes a fazer a chamada.  Olhei para Genevieve e desejei que ela não tivesse de passar por isto - Existe algum lugar aqui onde possas esconder o teu stock? Para o caso de a polícia decidir revistar o teu quarto - Não podíamos arriscar cairmos em mais outro problema. Deixei que ela tratasse de esconder aquilo e entretanto fiz a chamada para a polícia.  Fui breve e conciso. Fiquei algo nervoso. E se fosse parar à cadeia à pala disto? Eu estava em probatória por dois anos...e isto era uma violação da mesma, claramente.  

Enquanto ela se escapulira para se livrar da erva, eu andei às voltas a pensar no que fazer e no que dizer para ver se me safava de entrar em sarilhos. Pelos vistos ela estava a pensar no mesmo. Podia vê-lo na sua expressão preocupada - Não, Gen, isto é a coisa certa a fazer. Ele magoa-te e vai ser castigado por isso - Respondi convicto e não aceitaria que fosse de outra maneira. - Foi um caso de legitima defesa da tua parte e eu não tinha outra opção senão afastá-lo. Se relatarmos a verdade à policia eles vão ter de entender... - Esperava eu. Suspirei e abracei-a contra mim. Pousei um beijo no topo da sua cabeça - Não te preocupes. Vai tudo ficar bem.

Eu não me podia dar o luxo de ficar nervoso agora. Tinha de lidar a situação com racionalidade e frieza, isto se queria que as coisas acabassem sem grandes problemas para o nosso lado. Para o meu lado. Por isso as coisas que ela estava a dizer não ajudavam minimamente, mas ela também tinha razão - Genevive...não está certo. Vou andar com vontade de lhe dar uma tareia... - Ainda estava com vontade. Tinha este instinto. Os meus punhos continuavam cerrados como que para me conter. - Já liguei à policia. Vou dizer que foi a falso alarme. Mas se ele voltar a tentar algo contra ti, Gen, se volta... - Estava morto, pensei para mim mesmo. Afastei-me um pouco para fazer a chamada. Ficaram aborrecidos comigo, como se estivesse a gozar com a cara deles mas pelo menos já não haveria um carro patrulha a caminho - Eu voto em deixar-mo-lo algures num sítio nojento que é onde ele merece.

A sua aproximação teve um efeito calmamente em mim. Tinha-a ali, ali mesmo à minha frente e apesar de saber que estava magoada sabia que a podia proteger e isso tranquilizava-me. - Um pouco mais de tareia ainda - Comentei com um breve sorriso divertido, pois desta vez estava só a gozar. Não estava a gozar.  - Tens a certeza que estás bem? Podemos ir até à enfermaria... - Eu sabia que ela só precisava de gelo e repouso mas mesmo assim queria garantir que ela recebia tratamento. Recebi o meu casaco pela sua mão e vesti-o- O meu semblante ficou sério novamente quando tive de pegar o rapaz pelos pés e arrastá-lo para fora da sua residência pelas traseiras da mesma. Queria lá saber se ela estava a ficar sujo e arranhado por causa do chão. Merecia-o.

Largámo-lo nas traseiras do edifício da cantina, entre os sacos do lixo. Isso ao menos deixou-me contente. 

Regressámos para a minha residência.