Estação de Autocarros

Logo no momento em que caí em mim e me apercebi que a Elie já não estava por ali mas sim numa terra distante, eu comecei a deprimir. Eu, Jonathan Grey, mulherengo como o raio por sinal, estou deprimido como a merda por uma rapariga ter ido passar o natal e a passagem de ano com os familiares e amigos. Quão ridículo é isto?
Mesmo não querendo admitir ou até verbalizar tal coisa, eu realmente gostava dela e gostava de poder tê-la sempre por perto. Infelizmente isso não me é possível, muito menos agora.

Com o passar dos dias, as saudades foram apertando e eu acabei por não aguentar. Tinha de falar com ela, fosse como fosse. Aborrecido e deprimido, acabei por pegar no telemóvel e ligar-lhe.
- Estou, Elie? É o Jon... Quero dizer, o Jonathan. Da faculdade...

Assim que cheguei à minha terra, mal tive tempo de mexer no telemóvel, ou porque estava com os meus amigos, ou porque estava com a minha família. O natal tinha sido do melhor, tinha passado com toda a família e correra tudo bem. Já a passagem de ano, tinha ido para uma vivenda dos pais do meu melhor amigo, e no noite, tinha apanhado uma pequena bobedeira, o que agora, dia 1 de Janeiro, me fazia estar um pouco...mal, descrevendo assim para poupar todos os promenores.

Ainda estavamos na casa do meu melhor amigo e era cerca de 18h quando o meu telemóvel começou a tocar pensando eu que era a minha mãe, mas no visor estava algo como 'Jonathan Grey a chamar', sorri perante o que tinha visto e atendi ouvindo a sua voz do outro lado da linha. - Hey, olá Jon. - murmurei mas mal consegui dizer mais qualquer coisa porque o meu melhor amigo, Ton, começou logo a armar-se em parvo e a fingir que era meu namorado. - És mesmo estúpido, pará. - resmunguei com Ton e fugi para a casa de banho. - Oh, desculpa, ele é mesmo atrasado. - murmurei e fiz uma careta apesar de ele não estar a ver. - Bom Ano. - desejei carinhosamente.

No momento em que ouvi uma voz masculina misturada com a voz de Elie, deu-me assim uma pitada de ciúmes tão grande que fui obrigado a revirar os olhos e suspirar pesadamente, evitando assim comentários indesejados. Mordisquei o lábio e limitei-me a esperar quando me apercebi de que estava em andamento, e quando voltei a ouvir a sua voz, sorri. Apesar de ela não me estar a ver, tenho a sensação que consegue perceber que o estou a fazer.

- Bom Ano para ti também, Elie. - Desejei num tom igualmente carinhoso, acabando por me mexer até voltar a sentir-me confortável. - Quem era? - Lá acabei por perguntar, sem conseguir esconder tanto a curiosidade como os ciúmes que sentia, provavelmente sem razão nenhuma.

Acabei por me sentar em cima do lavatório da casa de banho, depois de ter entrado e fechado a porta trás de mim.  - Obrigada. - murmurei, com uma voz baixa e ainda com um sorriso. Era estúpido sorrir, mas não o conseguia deixar de fazer, e nem sabia bem porque, ou talvez não o quisesse saber.
- Ahm... - hesitei antes de lhe responder, porque estaria a perguntar? Secalhar era melhor nem me interrogar de tal coisa para não pensar coisas parvas. - Era o Ton. - disse apenas baixinho sem dar muitos promenores de quem era. - Está tudo bem por ai? - perguntei sem saber muito bem se ele tinha ido passar o natal a sua casa ou não, mas provavelmente tinha ido.
Falava com uma voz lenta e baixa, devido às dores de cabeça que tinha, tinha de facto abusado um pouco na noite anterior, e agora tinha as consequências da mesma.

- Eu não perguntei como ele se chamava, mas sim quem era... - Acabei por dizer num tom mais ríspido do que realmente queria, e tentei amenizá-lo de imediato - Eu quero saber é o tipo de relação, ahm... Amigo, primo, tio, namorado... - Engoli em seco quando disse aquela palavra, mas disfarcei com um riso forçado. Mudei de assunto com medo de obter uma resposta que não queria ouvir.
- Sim, está toda a gente com uma ressaca dos infernos e mal se aguentam em pé. Por acaso acho que não estou assim tão mal, há quem esteja pior... E tu? Estás bem, Elie?

Revirei os olhos pelo modo que falava comigo pelo telemóvel. E o que realmente lhe interessava? Fosse o que fosse, acho que não era muito da sua conta, pelo menos agora, o que me fez ignorar o que ele tinha dito e passar ao outro assunto da conversa sem qualquer hesitação.
- Eu estou bem. - fiz uma careta para mim própria, bem mal, queria eu dizer. - Dentro dos possíveis. - acabei por acrescentar.

 - Não me revires os olhos, Elie - Resmunguei-lhe baixinho, rindo quando ouvi o silêncio do outro lado da linha. Ok, conheces demasiado os seus tiques, Jon. - E desculpa, eu não queria ser intrometido nem falar-te mal. Desculpa, não tens que me dar satisfações. - Quase que me senti a falar sozinho, por isso voltei a mudar de assunto. Que mariconço, Jonathan. - Dentro dos possíveis? Mas passa-se alguma coisa?

Fiquei algum tempo sem dizer nada antes de lhe responder qualquer coisa. - Como é que sabes que eu revirei os olhos? - perguntei às gargalhadas, era mesmo uma coisa estranha, mesmo muito! Mas acabei por me calar por me dor a cabeça e isso ainda me fazer pior. - Oh foi a passagem de ano, não é, calha a todos. - murmurei. Ouvi Ton estar a chamar por mim, mas ignorei.

- Ahm... Sei lá, eu disse ao calhas e parece que acertei - Ri baixinho e assenti, mesmo sabendo que ela não estava a olhar para mim - Ah, estás de ressaca! Apesar de isso não ser nada bom, assim já fico mais descansado. Assim como quem diz, claro.... Bem... Quando voltas?

Voltei a gargalhar baixinho quando ele falou. - Não estou nada, achas que alguma fez faria uma coisa dessas? - fiz de novo uma careta. Mas de facto, parecia uma menina santinha mas de santinha era o que eu tinha menos! - Ainda não sei.. talvez no final da semana, ou então só mesmo no fim de semana... - respondi à sua pergunta. - Mas porque? - perguntei curiosa.

- É claro que acho! - Comentei a rir baixinho, calando-me quando voltou a falar. Era importante para mim saber quando ela ia regressar, por isso era melhor ouvir direitinho - Oh, ahm.. Porque tenho saudades tuas. - Acabei por admitir, calando-me depois. Ah, merda.

Sorri feita parva, ali sozinha, dentro de uma casa de banho. - Oh... [/b]- foi a única coisa que consegui responder no momento em que ouvi que tinha saudades minhas. -[b] Quem diria. - disse passado um bom bocado de se instalar um silêncio entra ambos.

- Não gozes comigo... - Pedi meio envergonhado naquela situação, o que tornava tudo ainda mais ridículo. Ri baixinho ao ouvir o que ela disse a seguir e sorri assentindo, mesmo sabendo que ela não me estava a ver - É verdade...

Ficamos de novo calados e eu sem saber o que lhe dizer, até que Ton acabou me por chamar de novo. - Bem, estão-me a chamar, até depois, beijinhos. - murmurei num tom querido sorrindo feita parva.

 - Oh, está bem... Então ok... Falamos depois? Quando puderes, e se quiseres, manda mensagem que eu depois ligo-te, está bem? E quando souberes quando voltas avisa-me também, por favor - Pedi, suspirando quando terminei - Até depois Elie, beijinhos. - Murmurei, desligando então a chamada antes de não ser capaz.

- Sim, sim, claro. - afirmei ainda a sorrir. Pelo menos eu esperava que sim, e pelo seu tom de voz também me dava a entender o mesmo. - Beijinhos. - voltei a dizer e fiquei um pouco supresa por ter desligado logo a chamada. Acabei por sair da casa de banho e ir ver o que Ton queria.

Senti-me um idiota mal cliquei na lista vermelha na parte inferior do ecrã. Devia ter deixado ser ela a desligar a chamada, mas agora isso já não interessa para nada. Suspirei e deixei-me ficar no meu quarto, voltando a dormir para curar o resto da minha ressaca. Só esperava que Elie voltasse depressa.

Estivemos na vivenda de Ton até dia 3 mais ou menos, e acabei por ir apenas para casa nesse dia, visto que dia 6 iria tentar ir para a faculdade. Mas as coisas foram passando e como não correram muito bem, sendo que os resultados da passagem de ano foram uma gripe horrível que me deixou de cama, acabei por ir para a faculdade uma semana mais cedo e não tive tempo de avisar Jon, que me pedira.
Assim que entrei no autocarro, acabei por ir para o meu lugar e mandei-lhe uma mensagem, a dizer que estava de regresso.

Assim que Elie me mandou a mensagem, eu não fui capaz de pensar em mais nada. Nem sequer lhe perguntei a que horas é que ela cá chegava, simplesmente agasalhei-me bem e fui para a mesma paragem onde me tinha despedido dela e, pouco depois, acabei por lhe ligar.
- Hey, Elie. Então, como estás? - Perguntei primeiro, sorrindo que nem um idiota por saber que ela vinha a caminho.

Acordei com o som de uma chamada vindo do meu telemóvel, devia ser a minha mãe a perguntar onde estava ou assim. Assim que o tirei do bolso observei o visor 'Jon a chamar', acabei por sorrir e atendi a chamada. - Hey. - murmurei com uma voz de sono. - Acordaste-me, parvo. - brinquei num tom baixinho.

Sorri ao ouvir a voz ensonada dela e ri baixinho - Desculpa, eu não sabia... É só que... Queria saber a que horas mais ou menos é que chegas cá. Se ainda estás muito longe ou não...

- Nao faz mal. - ri-me baixinho e olhei as horas, no pequeno ecra do autocarro, quando me perguntou quando chegava. - Ainda falta uma hora. - murmurei, pelo menos a maior parte do tempo já tinha passado.

- Uma hora? - Olhei para o meu relógio de pulso e sorri - Está bem. Eu já estou na paragem à tua espera - Informei, mordiscando o lábio enquanto ela não respondia. Ok, agora talvez apreça um tótó.

Sorri ligeiramente quando o ouvi falar. - Não é preciso, eu depois vou ter contigo. - murmurei, apesar de já lá chegar de noite, ainda dava para o ir cumprimentar.